Deus

Quem em sã consciência pode dizer quem é Deus?
Quem pode defini-lo, mensurá-lo?
Quem?

Acredito que um dos maiores presentes que pude receber da espiritualidade nesse ano de 2018, foi ter dado essa aula junto a um irmão com quem aprendo muito. Falar sobre Deus, ou ao menos tentar, é um desafio constante. É mais fácil sentir do que explicar. Todos sentem Deus ao seu modo, em seu lugar, mas ninguém explica. Ninguém Explica Deus.

Foi exatamente assim que começamos a aula naquela Quinta-Feira, com um louvor que me emociona muito! Sim, eu sou Umbandista e escuto este louvor, o compartilho porque ele toca minha alma como um ponto acelera meu coração, e nem por isso sou mais ou menos, afinal, é Deus da mesma forma. Não tenho preconceitos.

Aliás, te faço agora um convite! Ouça essa música antes de iniciar a leitura dessa matéria e ouça de novo, quantas vezes precisar. Veja quão grande pode ser Deus apenas em um falar, um olhar.




"Nada é igual ao seu redor, tudo se faz no seu olhar, todo Universo se formou em seu falar. Teologia para explicar, ou Big Bang pra disfarçar, pode alguém até duvidar, sempre há um Deus a me guardar. E eu, tão pequeno e frágil, querendo sua atenção, no silêncio encontro a resposta certa então. Dono de toda ciência, sabedoria e poder, dai-me de beber, da água da fonte da vida. E antes que o haja houvesse Ele já era Deus. Se revelou aos seus, do crente ao ateu, ninguém explica Deus!"


Acredito que eu não precise falar muito após você ter ouvido essa música. 

"Deus entre muitas formas de descrevê-lo, também pode ser descrito como o estado divino da criação, fato esse que O torna presente em nós mesmos através da nossa "vida" e torna-se sensível através dos nossos mais elevados sentimentos de fé." - Rubens Saraceni

Deus é origem, o princípio de tudo, o início e o fim. É de onde viemos e para onde voltaremos. É o todo e a parte. Sombra e luz, ambiguidade. Somos centelhas divinas de sua criação, filhos do imensurável, do imprevisível, do amor, do perdão. E Deus, em toda sua grandeza, é Pai, Mãe, energia, fé, crença e oração... "é indescritível de palavras e impossível de ser modelado em uma imagem" justamente porque Ele é tudo, está em todos. Está em mim, em você, no nascer, florescer e morrer; nessa leitura, no aprendizado. No crente, ateu, budista e judeu. No sorriso sincero de uma criança e na dor de uma enfermidade. Está na igreja, no terreiro, no templo, na natureza, no mar, no rio, na cachoeira... 

Quão complexo é Deus, não é? E mesmo assim ele se apresenta a nós das formas mais simples que podem existir... 

Você já deve ter lido ou visto "A Cabana", ou ao menos ouvido falar. Talvez tenha sido somente aqui, enquanto lia essa obra, muito antes de iniciar na Umbanda, que eu tenha entendido Deus em sua complexidade e o quanto nós, seres humanos, temos a necessidade de dar forma àquilo que é mutável e imutável ao mesmo tempo para crer em algo. Algo que nos conforta. Algo que nos liga. 

Pode parecer estranho o que estou prestes a dizer, mas, assim como o vivenciado na leitura, antes de eu estudar teologia e migrar rumo a diversos estudos, pensava em Deus como sendo grandioso, um senhor de aparência envelhecida, maior do que a Terra, possuidor de toda bondade que somos capazes de perceber. Não que eu estivesse errada, porque não existe o certo e o errado, e talvez ele fosse, estivesse sob essa forma para mim, talvez ele ainda seja... é o Papai do Céu para a criança mais pura e inocente. Quem pode dizer?

Mas meu olhar para o assunto era restrito a um estereótipo religioso criado e aceito por todos nós em algum momento de nossa existência. Isso foi mudando com o tempo. Hoje quando eu penso em Deus, penso no Universo e em todos os mínimos detalhes de sua criação.

Eu não julgo aqueles que ainda são detentores dessa necessidade, de dar a Deus uma forma, porque eu mesma era. Muitos precisam de algo concreto para conseguir externar sua fé. Contudo, quando você se liberta desses conceitos e estereótipos, Deus se torna maior ainda do que ele já é para você. Pois se torna a própria fé, o próprio amor, a própria esperança, a própria vida... você.

Retornando "A Cabana", essa obra quebra todo e qualquer paradigma. Quem diria que teríamos Deus como uma mulher negra, que usa roupas africanas, cozinha e ouve músicas em um fone de ouvido enquanto dança, Jesus como um "operário" e Espírito Santo, o próprio tempo, como uma mulher asiática? É quase cômico se não fosse tão verdade. Aliás, se me permite um comentário, para mim essa obra nunca foi ficção, é apenas um instrumento que desperta questionamentos nos indivíduos e os fazem refletir quão pequena é nossa fé comparado a grandeza que Deus é. Mackenzie representa isso em nós:

"Pensamentos se embolavam enquanto Mack lutava para ter alguma clareza. [...] Já que eram três, talvez aquilo fosse uma espécie de Trindade. Mas duas mulheres e um homem? E nenhum deles era branco? Mas por que ele havia presumido que Deus era branco? Sabia que sua mente estava divagando, por isso concentrou-se na pergunta que mais queria ver respondida:

- Então qual de vocês é Deus?


- Eu - responderam os três em uníssono. Mack olhou de um para o outro e, mesmo sem entender nada, de algum modo acreditou."


A trindade católica é claramente representada pelo Pai, Filho e Espírito Santo, que aparecem na obra como individualizações de Deus. Deus é UM que se manifesta por meio de três pessoas. Alexandre Cumino discorre sobre esse assunto em Orixás na Umbanda e Rubens Saraceni em Doutrina e Teologia. Ambos, um de forma mais simples e outro de forma mais complexa, nos fazem compreender Deus em nossa religião, e as Divindades e Orixás como manifestações de sua presença, de suas qualidades divinas pautadas na fé, amor, conhecimento, justiça, lei, evolução e geração, o que nos leva as sete linhas de umbanda e aos planos fatorais. Porém, este é um assunto para outro momento.

Com o passar da leitura percebi que Deus estava em cada linha transcrita e não apenas em três personagens, e que Mack é o nosso Eu inconsciente. Pense. Todos temos alguma parte de Mack em nós, algo a perdoar, a reencontrar. Não é atoa que todos aqueles que realizam essa leitura relatam vivenciar sentimentos nunca antes encontrados em si. É como uma terapia as cegas. E funciona, pois nos faz refletir, replantar o jardim da alma, reencontrar o nosso Deus.

Não estou aqui para te encher de novas verdades religiosas, porque acredito que nada é absoluto, mas quero te apresentar uma nova ideia de que Deus é e pode ser maior do que aquilo que pensamos para Ele. A partir de então, pouco me importa se o seu Deus cabe em um homem, uma mulher, na ciência ou no universo, o que verdadeiramente importa é que você sinta Deus a sua forma e estabeleça n'Ele sua fé. 

Naquela noite de Quinta, antes de encerrarmos a aula, compartilhei um texto com aqueles que ali estavam e que agora quero compartilhar com vocês para que fique de reflexão:

"Eu sou a essência absoluta, sou arqui natural, onisciente, onipresente, sou a mente universal, sou a causa originária, sou o pai onipotente, sou distinto e sou todo. Eu sou ambivalente. Estou fora e dentro, estou em cima e em baixo, eu sou o todo e a parte, eu é que a tudo enfaixo, sendo a divina essência. Me revelo também criação e respiro na minha obra, sendo o todo e a fração. Estou em suas profundezas, sempre a te manter, pois sou a sua existência, a sua razão de ser. E falo no seu íntimo, e também no seu exterior. Estou no cérebro e no coração, pois sou o seu senhor. Estou em você e no infinito, sou princípio e sou fim. De meu coração é filho e eu serei sempre seu Deus. Eu não venho e não vou, eu sou o eterno e o presente. Sempre fui e sempre serei seu Pai..." 

E agora... Quem é Deus para você?
Que Deus em sua infinita existência o abençoe!

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