Pombo-Gira: Guardiã dos meus caminhos

Motumbá irmãos!

Escrever sempre foi libertador a minha forma de perceber e sentir a religião, quanto mais estudá-la e poder compartilhar nossas vivências diárias com vocês. A Umbanda é uma só, sabemos, mas os modos de praticá-la são infinitos. INFINITOS.

Cada um com seu qual e todos em uma única Umbanda. 

Eu diria que essa é uma religião incrível, que possui em cada um de seus rituais ou arquétipos, magia e mistério, mas falando especificamente dos arquétipos, são eles os responsáveis por trazerem do passado, as origens do nosso presente e de tudo aquilo que conhecemos como linha de trabalho. Eles trazem consigo impressões antigas que, na nossa religião, são alinhados aos elementos históricos que traduzem nossa ancestralidade.

Mas esse arquétipo em especial, do qual falaremos hoje, me deixa lisonjeada como médium e mulher, primeiramente pela oportunidade de desmistificar essa linda linha de trabalho através da convivência e estudo que me foram proporcionados ao longo desses anos, seguidamente por SER mulher, cambona e médium de Pombo-Gira. 

Aproveito para lhes contar que, para desenvolver essa matéria, me inspirei no trabalho de quatro grandes falanges de Pombo-Giras as quais tenho prazer imenso de atender aqui em nosso terreiro: Dama da Noite, Rosa Caveira, Sete Saias e Maria Padilha, que são as responsáveis por ensinar cada um que daqueles que cruzam seus caminhos sobre a importância de seus trabalhos e as diferentes formas de fazê-lo. À Elas o meu muito obrigada e a dedicatória, com muito carinho, dessa matéria. 

Mas quem é Pombo-Gira e qual a verdadeira representação do seu arquétipo? 
Será que Pombo-Gira é realmente mulher de Exú, Exú mulher ou mulher da vida?
Por que seria de tantos se pode ser apenas sua? Já pensou nisso?...


LAROYÊ POMBO-GIRA!
POMBO-GIRA É MOJUBÁ!

As ruas seriam escuras se não tivesse Pombo-Gira para iluminar, as encruzas não teriam o mesmo perfume de rosas e a noite não seria serena sem sua gargalhada. É que Pombo-Gira comanda nossos caminhos, nos livra dos inimigos e de todas as demandas, ressaltando em nós a autonomia existente em nossas vidas e o amor próprio que deve alimentar nossas almas.

Para entendermos as essências que partem desse arquétipo e quais os elementos históricos contidos nele, voltemos ao passado, onde a mulher tinha sua liberdade restringida ao lar e a reverência dos prazeres masculinos sem que suas vontades fossem ouvidas, quanto mais aceitas. A mulher, nessa época, era vista como um elemento de prazer, atuante na cadeia de reprodução genética de seus benfeitores e valia, em casamentos arranjados. 

Mais tarde, a mulher que antes já tinha sua liberdade restringida, passa a ser condenada à fogueira da "santa" inquisição por práticas curandeiras ou contradizentes a monarquia do clero. As "bruxas" servem como instrumento de imposição de força e perdem sua dignidade quando são acusadas em falso. 

Já diria o ponto:

O povo queria matar uma mulher
O padre não concordou e a rezou com muita fé.
Ele era pecador e na fogueira queimou junto, 
Foi parar lá no inferno aquele casal de defunto.
Ela se juntou a cinzas e gargalhou a luz da lua, 
A mulher virou Mulambo e o padre S. Tranca Ruas.

Foi condenada pela lei da inquisição,
Para ser queimada viva sexta feira da paixão.
O padre rezava e o povo acompanhava, 
Quanto mais o fogo ardia, ela dava gargalhada.

Aqui surgem duas reflexões partindo desse ponto: os que deveriam ser "salvos" e se julgavam "santos", eram pecadores, e os "pecadores" acusados em falso, eram salvos. O renascimento vindo da morte. Pombo-Gira gargalha, então, representando a força, a evolução e a vitalidade, as trevas dos ignorantes, a Lei. Ela, que tanto aparentava ser frágil, foi quem resistiu ao fogo se tornando a própria magia.

Pombo-Gira surge como mulher, dona de si. 
A bruxa, temida. 
Mulher de sete maridos, atuante de suas vontades. 
Praticante de magia, Rainha. 

Seja como for, Pombo-Gira conquistou uma força de trabalho adjunta a Umbanda, que encanta quem Ela conhece. Nas trevas, levam luz à escuridão, são a lei e a execução e estão sempre amparadas pelo Pai Criador. Se situam à nossa esquerda neutralizando nossos negativismos e empoderando a autonomia existente em cada um dos seres, e quando em terra, auxiliam principalmente com saúde, amor e família. 

Não, elas NÃO amarram homens e muito menos os trazem de volta em três dias, jamais interfeririam em nosso livre-arbítrio. Inspiram e resgatam em nós o amor à vida, o amor próprio e o amor divino. Nunca foi e nunca será "mulher de sete maridos", mas tem nesse estereótipo a representação da autonomia sobre suas escolhas, que rompe com a repressão do desejo e a submissão tida no passado, reafirmando, mais uma vez, o empoderamento feminino. São sensuais sim, mas jamais vulgares.

Conhecem o passado, o presente e o futuro. Podem jogar cartas e ler nossas mãos e utilizar de pedras, cristais, incensos, brincos, pulseiras, batons e perfumes para fazer seu trabalho. Umas preferem preto e vermelho, outras douradas e roxo; umas saias longas e outras, mais curtas; umas tomam champanhe e outra seguram a garrafa de cachaça na mão; umas usam taça e outras não fazem questão, cada qual com seu gosto pessoal dentro de sua falange e com suas histórias, que reafirmam em nós algo que precisa ser trabalhado em nosso íntimo.

Em sua dança transmutam energias, afastam os inimigos e desviam os perigos, e com sua gargalhada destroem magias. Nos ensinam a transformar o ódio em amor, a dor em flor e a admirar a rosa mesmo que ela possua espinhos. Seguram firmes em nossas mãos na tristeza e nos conduzem até a luz para sorrir nossas alegrias. Pombo-Gira é mulher, guardiã, mãe e melhor amiga... 

É tudo e reside em cada um de nós...

E é com o brilho contido no olhar de nossas grandes amigas, que peço para que cada um de vocês tenham muito respeito pelo trabalho dessas moças e compartilhem com verdade tudo o que elas representam, desconstruindo preconceitos, pois por elas, tudo o que temos, é amor e gratidão.

"E quando ela chega, não há quem não veja sua magia se espalhando pelo ar, protegendo seus filhos e os seus caminhos.
Com a sua seriedade e seu olhar inesquecível, ela nos mostrou que a força reside no cuidado mais simples que empanhamos naquilo que acreditamos, se encontra no amor, e na fé. 
Sua presença é marcada por todos que a enxergam assim, pois ela sempre está lá. Nem todos sentem.
Mas nós, agradecemos por deixar um pouco Dela conosco... 
E abram a roda que Pombo-Gira chegou!" (Duda Rodrigues)

ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS:

Os elementos que citarei abaixo tem como base a ritualística do nosso Templo e as entidades que aqui trabalham, por isso, não pode ser entendido como regra, pois doutrina e fundamento podem divergir conforme a casa:

BEBIDA: Champanhe. 
COMIDA: Frutas vermelhas (maça, morango, uva, ameixa, pessêgo...)
FUMO: Cigarro branco.
VELA: Vermelha - Dourada.

"Quem vem lá, quem vem lá?
Com uma rosa na mão e um sorriso no olhar..."

Comentários

  1. Simplesmente espetacular, simples, objetivo e tocante. Que dom menina, que sabedoria 🙏🏾.
    Laroye pombo-giras 🌹💃🏾

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    1. Ah, que alegria ler isso! Muito bom saber que gostou!
      Axé pra nós!

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